segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O que Jesus quis dizer com o Camelo e a Agulha?

"...vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. "Mateus 19:24


Uma leitura rápida da passagem tem levado muitos á seguinte conclusão. Os ricos nunca poderão entrar nos reinos dos Céus, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha. É verdade que é dificílimo para um homem rico obter o reino dos Céus, não porque ele é rico, mas por causa da sua atitude com as riquezas. O contexto de Mateus 19.24 não apresenta a impossiblidade de salvação para os ricos, mas apenas as maiores dificuldades que eles terão de vencer, basta ler versos 23 e 26.

PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO

Essa interpretação tem sido a mais propagada nos últimos séculos, mas carece de fundamentação exegética, histórica e teológica, podendo trazer distorções no significado do dito de Jesus. Essa interpretação diz o seguinte: no Oriente Antigo, as caravanas com seus camelos viajavam por dias, e muitas vezes chegavam de noite com suas cargas. Eram proibidos de entrar nas cidades, que eram muradas, mas tinham passagens estreitas por onde os camelos poderiam passar, mas por serem tão estreitas, não permitiam que os camelos entrassem com suas cargas. Isso existiria para aqueles que eles pudessem beber água, pois muitas vezes andavam dias e dias pelos desertos sem verem uma gota de água, e até os camelos sentem sede. 
Então seus donos retiravam as cargas de suas costas para que eles pudessem passar de joelhos pelo "buraco da agulha", uma passagem própria para camelos, nas muradas das cidades.
O comércio precisava ser á luz do dia, pois a fiscalização teria que verificar a natureza da mercadoria e arrecadar os impostos, sendo proibida assim, a venda durante a noite. Em analogia a isso, a pessoa poderia ter os bens que fosse, que para entrar no céu, teria que se despir de toda a sua riqueza.
Ao se colocar a expressão "fundo de agulha" como se referindo a um pequeno portão para pedestres em Jerusalém pelo qual os camelos só poderiam passar de joelhos, contraria-se o verdadeiro sentido do ensino de Jesus e isso também porque essa teoria não possui nenhuma prova histórica.

SEGUNDA INTERPRETAÇÃO

Esta interpretação diz que se trata de uma citação bíblica inexata, devido a um erro de tradução. O texto grego original não mencionaria um camelo (kámelos), mas uma corda grossa (kámilos). Quando foi traduzida para o latim, a palavra kámilos teria sido confundida com kámelos, pois a única diferença no grego seria um iota subscrito. Assim, o erro teria sido perpetuado em todas as línguas em que a Bíblia foi traduzida posteriormente.
Por conseguinte, teria havido uma substituição da palavra grega - kámilos - corda grossa, cabo, para kámelos - o animal. É fato que alguns poucos manuscritos cursivos substituem kámelos por kámilos, mas isto é evidentemente um erro, um mero esforço para solucionar uma dificuldade do texto. Esta palavra, com o significado de corda ou cabo, parece ter sido inventada para escapar da dificuldade encontrada no próprio texto.
Os poucos escribas ou editoras que substituíram " camelo" por corda podem ter sido inconscientemente influenciados pelo desejo de fazer a entrada de um rico no reino de Deus levemente menos difícil do que nosso Senhor disse que era.

TERCEIRA INTERPRETAÇÃO

Um ensinamento nos foi dado por Zaqueu, um riquíssimo publicano que, ao receber visita de Jesus, ajoelhou-se aos seus pés e, numa exaltação interior, numa expolsão de júbilo, exclamou: " SENHOR, HOJE MESMO DAREI A METADE DA MINHA FORTUNA AOS POBRES, E SE PORVENTURA DEFRAUDEI ALGUÉM, EXORBITANDO NO EXERCÍCIO DO MEU CARGO, IREI RETRIBUIR COM UMA QUANTIA QUATRO VEZES MAIOR!", decisão essa que recebeu de Jesus a seguinte observação : " Zaqueu, hoje entrou salvação na sua casa".
Enquanto o moço rico, apegado aos seus bens terrenos não quis trocar sua fortuna material por um tesouro imperecível nos planos espirituais, o publicano Zaqueu, num gesto de exaltação espiritual, numa manifestação de contentamento interior, ao receber a visita de Jesus em sua casa, deliberou distribuir metade dos seus bens entre os pobres, retribuindo com uma quantia quatro vezes superior, áqueles de quem as havia extorquido, merecendo a assertiva de Jesus já citada acima.
Cristo espera que seus filhos não vejam as posses como o unico objetivo de trazer-lhes comodidade e conforto,mas como um privilégio outorgado por Deus para converter-se numa benção aos mais carentes.

Fonte: Como entender os textos mais polêmicos da Bíblia - Editora AD SANTOS - p. 95 a 108

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